Após 6 dias em Las Vegas, seguimos para San Francisco numa viagem de 3 dias de carro, passando pelo Death Valley, por Mammoth Lakes, pelo Yosemite e por Napa Valley. No primeiro dia, saímos de Las Vegas e atravessamos o Death Valley com objetivo de chegar até Mammoth Lakes, onde pernoitaríamos.
A partir de Vegas, existem três possibilidades de caminhos para chegar ao Death Valley National Park. O mais longo segue pela Hwy 95 North num trecho de cerca de 258 km até Furnace Creek Visitor Center. O lado positivo desse trajeto é a possibilidade de conhecer a cidade fantasma Rhyolite. Há ainda um percurso um pouco mais curto que segue pela Hwy 95 North até a NV Hwy 374, que se transforma em CA Hwy 190 no Death Valley Junction. A terceira opção, a mais próxima e a que fizemos, é a que segue pela NV Hwy 160 até a Pahrump e depois pela Bell Vista Road até o Death Valley Junction (trecho destacado em azul no mapa abaixo).
A estrada é muito tranquila. Quanto mais nos afastávamos de Las Vegas, menor era o movimento. Inicialmente, a rodovia é duplicada, mas a parte que atravessa o Vale da Morte é pista de mão e contramão, mas muito bem sinalizada e conservada. A paisagem já é diferente desde a saída de Vegas e vai mudando à medida que nos aproximamos do Death Valley.
A entrada do parque nacional não era aquilo que tínhamos imaginado. Pensei em algo como um pórtico, ou uma cancela, sei lá… algo onde seria cobrada a taxa de 20 dólares por carro. Não havia nada, apenas um… como posso dizer? Tipo um quiosque ao lado da estrada. Os mais desavisados passam direto fácil. O local tem dois banheiros (que estavam imundos, sem condições de usar, portanto “desabasteçam” bem ao sair de Vegas) e um escaninho com portinhola do vidro, onde ficavam os mapas do Death Valley. É só pegar. Estou explicando isso porque lembro que ficamos meio perdidos. Não éramos os únicos carros parados ali, todos de turistas, e todos sem entender nada. Porque não há ABSOLUTAMENTE ninguém fiscalizando ou dando informações. Literalmente, DESERTO! Queríamos um mapa e ficamos procurando enquanto eu pensava: “caramba, estou lascada. Por que não imprimi o mapa que tinha na internet?” O GPS não pegava sinal, tão pouco o celular. Acontece que tem mapa lá sim, só que parece um jornal. Se abrir ele todo, tem o mapa completinho no interior, exatamente como o da figura abaixo. O problema foi que ficamos sem saber se tinha que pagar pelo mapa, mas só havia uma plaquinha dizendo para pegar um por família. Só isso! Então pegamos. E todos os outros turistas começaram a pegar também. Estavam mais perdido do que nós. Pelo que falavam, pareciam da Alemanha, ou Rússia, ou qualquer país com uma língua que não entendo absolutamente nada.
Outra dúvida que tivemos foi com relação ao pagamento da taxa do parque nacional. Não havia nenhum funcionário cobrando. Não sei se é sempre assim, mas relatando a nossa experiência, foi meio confuso. Vimos outras pessoas mexendo numa máquina, tipo de pagamento de parquímetro ou de estacionamento de shopping. Era lá que pagava a tal taxa, sem ninguém para controlar. Entramos na pequena fila, mas as pessoas simplesmente não estavam conseguindo realizar o pagamento e acabavam desistindo. Apenas um casal conseguiu. Quando chegou nossa vez, vimos que não tinha onde colocar dinheiro, apenas cartão. Tentamos primeiro com VTM. Nada! Depois com cartão de crédito. Nada! Dava inválido. E aí, o que fazer? Olhávamos para um lado, para o outro, e não havia mais nada nem ninguém ali. Ninguém além dos turistas perdidos. Tentamos umas três vezes e desistimos. Pensamos que talvez em Furnace Creek, no centro de visitação, tivesse como pagar e explicar que a máquina não estava funcionando. E seguimos viagem porque ainda havia muita coisa para ver.
Um pouco à frente, tem uma saída à esquerda (estou falando de quem vem de Vegas pelo caminho que fizemos, ok?). É a entrada do Dante’s View. São 21 Km até nosso primeiro deslumbramento, onde tivemos uma real noção do que nos esperava no Death Valley. O Dante’s View fica a 1650m de altitude, a oeste do parque. Dele, tem-se uma visão fantástica das salinas brancas do Badwater e das colinas espalhadas pelo vale, o qual já foi um dia coberto por um lago salgado. É de tirar o fôlego!
Retornamos os mesmos 21km e seguimos em direção a Furnace Creek. No caminho, paramos no Zabriskie Point. Esse ponto, que fica a uma curta caminhada do local do estacionamento, oferece uma vista incrível das Badlands, uma área formada por barrancos e cordilheiras originados em virtude da erosão. Parece de brinquedo. Sabe quando está na praia com criança brincando na areia de fazer castelinhos e tem aquela mistura de cores da areia? Foi assim que me senti.

Formato das rochas
Depois do Zabriskie Point, chega-se a uma bifurcação. Para um lado, segue-se para Furnace Creek; para o outro, em direção ao Badwater. Como estava no horário de almoço e não sabíamos o que encontraríamos para comer, fomos direto para Furnace Creek, que pensávamos ser uma cidade ou algo parecido. Entretanto, está mais para um pequeno Oásis no meio do deserto.
Nós paramos no Furnace Creek Ranch, que oferecia um self-service simples, tipo comida caseira, mas bem gostoso. É importante saber que eles param de repor os pratos cedo, de forma que a dica é não deixar para almoçar muito tarde (principalmente porque não há muitas opções na área). Nesse rancho, também havia uma lojinha com produtos gerais e souvenirs, além de um museu, o Borax Museum, que expõe as ferramentas e transportes usados nas refinarias do século XIX na exploração do Bórax (utilizado para fazer sabão em pó). Não chegamos a conhecer, pois o tempo era curto, e retornamos ao ponto da estrada onde ficava a bifurcação, seguindo agora para Badwater.
Ainda em Furnace Creek encontra-se o Visitor Center e um museu, com apresentação de slides a cada meia hora que conta a história natural do Death Valley.
São 26Km até Badwater, passando por outros pontos turísticos no caminho, os quais deixamos para o trajeto de volta.
O Badwater é o ponto mais baixo das Américas e fica 85,5 metros abaixo do nível do mar. Pode-se caminhar sobre a salina, no piso todo de sal, resíduo deixado pelo antigo lago alimentado por rios que traziam esse mineral das rochas das encostas. A água evaporou e o sal ficou. Eu não resisti a me abaixar e tocar. Ainda tem um resquício de água em um pequeno ponto. Quando eu estava pesquisando para a viagem, li que o nome Badwater vem da época em que os exploradores europeus chegaram montados em seus cavalos sedentos que, ao verem a água acumulada lá embaixo no vale, se animaram, apenas para descobrir que era muito salgada e imprópria para o consumo (não lembro onde li isso). Há uns 12 mil anos, durante a última era glacial, havia geleiras que chegavam até esse local, permitindo um fluxo constante de água nascente sobre os blocos de gelo. Essa água alimentava um gigantesco lago que preenchia todo o vale. Como isso mudou! É impressionante!
De frente para um paredão da montanha atrás do estacionamento, se olhar para cima e procurar, vai encontrar uma placa que indica o nível do mar. É MUUUUITO acima das nossas cabeças. Quando eu vi, foi uma sensação estranha só de saber que estava tão abaixo do mar. Morrer afogada no deserto não dá, né?
O calor no Badwater é quase que insuportável. Não dá para passar muito tempo. Eu realmente sentia como se tivesse cozinhando viva, tendo a noção de como seria estar dentro de um forno. Vimos que o termômetro do carro marcava 44 graus, mas com certeza a sensação térmica chegava próximo dos 50. Nunca sentimos tanto calor.
Retornando pela mesma estrada em direção a Furnace Creek, logo depois do Badwater, tem a Natural Brigde, resultado de milhares de anos da água cavando um túnel. É preciso sair da estrada principal e pegar uma estradinha de terra de 2,4Km. Nós seguimos até o estacionamento, mas quando vimos que ainda tinha uma caminhada de aproximadamente 4Km até essa ponte, desistimos, porque não havia condições de sair andando naquele calor.
Voltamos para estrada principal e, um pouco mais à frente, existe outra estrada de terra que leva ao Devil’s Golf Course, que é uma área de sal alternado com pedregulho. O chão é 95% puro sal.
Um passeio imperdível no Death Valley é o caminho do Artist Palette. É uma estrada estreita de mão única e só passa carro num sentido (do Badwater para Furnace Creek). Essa pequena estrada é como uma alça da estrada do Badwater, faz uma volta e retorna à estrada principal mais à frente. Tem, inclusive, limite de tamanho do veículo (menores de 7,7m). É uma estrada muito sinuosa em alguns pontos e tem que ir bem devagar. Até porque é impossível passar rápido e não aproveitar a paisagem maravilhosa e deslumbrante ao redor. Logo no início, tem um ponto de parada ótimo para tirar fotos. Depois, são poucos pontos de parada e, como a estrada é estreita, não dá pra parar em qualquer lugar. Porém, mantendo a máquina fotográfica a postos, é possível captar imagens incríveis de dentro do carro. Segundo nossas pesquisas, o nome Artist Palette vem da quantidade de cores encontradas nas encostas, fruto de minerais provenientes de antigas formações vulcânicas. Os tradicionais tons de vermelho e amarelo são misturados ao verde e até ao lilás. Parece realmente que foi pintado por grande artista. E não deixa de ser verdade. Essas cores vão ficando mais intensas no fim da tarde.
Saindo da estrada do Artist Palette, seguimos até Golden Canyon, onde conseguimos fazer uma curta caminhada pelo pequeno canyon cujo nome vem da cor de suas paredes.
Passamos de novo por Furnace Creek e seguimos por 30Km até a próxima bifurcação. Para um lado, pega-se a estrada que leva até o Ubehebe Crater, uma cratera de vulcão inativo de aproximadamente 2000 anos. São 61Km de distância e era muito contramão do nosso caminho, de forma que levaríamos quase 2h para ir e voltar. Não quisemos arriscar que escurecesse e ainda estivéssemos no Death Valley , até porque tínhamos um longo percurso até Mammoth Lakes, onde seria nosso pernoite. Próximo ao Ubehebe Crater está o Scotty’s Castle, um castelo construído em 1920 onde atualmente funciona outro Centro de Visitantes do Death Valley (ocorrem tours de 50 minutos pelo interior do castelo, a cada hora. Para maiores informações sobre valores, link). Seguimos para o outro lado, em direção à Stovepipe Wells e paramos no Mesquite Flat Sand Dunes, dunas onduladas de areia que dão um contraste na paisagem do deserto. As dunas recebem esse nome devido às mesquitas, pequenas árvores típicas, presentes nas dunas menores. É uma área onde pode-se encontrar alguns animais como lagarto, coiote e cascavel. Ainda bem que não vimos nada.
Logo depois das dunas, tem o Stovepipe Wells Village, um bom ponto de apoio com posto de combustível e loja de conveniência.
Ali encerrou nosso passeio pelo Death Valley. Seguimos para Lone Pine (de Furnace Creek a Lone Pine são 170Km) e até Mammoth Lakes, passando por Bishop, uma cidade maior com mais estrutura e opções e onde paramos para jantar (de Lone Pine para Mammoth Lakes são 160Km). Ainda encontramos alguns pontos que mereceram uma rápida parada para fotos pela paisagem maravilhosa que ofereciam na saída do Death Valley, como o Father Crowley Point, logo após Panamint Springs.
Uma coisa chamou nossa atenção nesse percurso de saída do Death Valley: num determinado momento atravessamos uma ponte e simplesmente a paisagem mudou. Assim, de repente! Não se via praticamente o verde das folhas no deserto. Mas, imediatamente após essa ponte, a vegetação estava toda verdinha.
Chegamos à Mammoth perto das 21h e fomos direto para o hotel, o Mammoth Lakes Creek Inn (aqui falamos um pouco sobre o hotel).
Confesso que não esperávamos muito do Death Valley e fomos totalmente surpreendidos. Belíssimas paisagens, uma mistura de cores incrível, uma experiência inesquecível. A única coisa que lamentamos de não ter conhecido foi o Ubehebe Crater. Para quem quer só passar pelos pontos principais do Vale da Morte, um dia é suficiente. Agora, quem quer explorar, caminhar, fazer trilhas, ver museus, tem que pernoitar. As opções de pernoite são poucas, mas boas, tanto em Furnace Creek, como em Stovepipe Wells, ou ainda em Panamint Springs. Mas o melhor mesmo deve ser fazer essa viagem de motorhome. Vimos muitos pelo caminho. Até porque o Death Valley não é, ao contrário do que pensávamos inicialmente, uma região completamente deserta. De pessoas, quero dizer. Encontramos muitos turistas fazendo passeios, apesar de termos visto pouco policiamento. Os pontos de interesse turísticos são todos bem sinalizados e com locais para estacionar. Só que é importante abastecer o carro ao sair de Vegas antes de entrar no parque, porque não há muitas opções de abastecimento.
O que é importante numa viagem pelo Death Valley:
– ter muitas garrafas d’água e algum lanche no carro.
– um carro com bom ar condicionado.
– saber que celular não pega sinal e o GPS funcionou apenas em alguns momentos.
– levar um mapa impresso ou pegar o mapa no Death Valley.
– usar roupas leves.
– usar boné ou chapéu.
– NÃO ESQUECER O PROTETOR SOLAR!!!
No próximo post, falaremos um pouco mais sobre uma cidade com paisagens de cartão postal chamada Mammoth Lakes.
(Facebook Twitter Instagram)_________________________________________________
Posts relacionados:
Las Vegas (Parte 1) – Informações gerais