Boston respira história. E a melhor forma que conhecer um pouquinho do processo de independência dos EUA é percorrendo a Freedom Trail.
Não é à toa que vemos vários grupos escolares tendo suas aulas ao ar livre em tours pela Freedom Trail e vendo, ao vivo e a cores, pontos históricos que foram tão significativos para os americanos e para o mundo. Tem forma melhor de aprender?
Para aqueles que querem aprofundar melhor a parte histórica é possível fazer um dos tours que saem do Boston Common Visitor Information, localizado no principal parque da cidade, o Boston Common, próximo a Tremont Street. Os guias se vestem com roupas de época e o tour pode ser uma experiência muito interessante e educativa para quem tem domínio do idioma.
O Centro de Visitante também é o local ideal para iniciar o passeio pela Freedom Trail para aqueles que vão percorrê-la por conta própria. Uma dica é comprar um dos mapas disponíveis no Centro. São vários tipos, de acordo com o detalhamento dos fatos históricos que desejar para aprofundar-se. Nós compramos o mais simples (3U$), que, além do mapa com todos os pontos históricos ao longo da Freedom Trail, traz um resumo da importância de cada um deles. É possível também pagar um download de audio tour, mas não chegamos a testar.
A Freedom Trail possui cerca de 4 km, passando por 16 marcos históricos da cidade. A trilha é marcada por uma faixa vermelha no chão (determinada por tinta ou por tijolos vermelhos) e é possível percorrê-la na ordem que desejar. Nós resolvemos caminhar no nosso ritmo, seguindo a trilha do chão e o mapa comprado no Centro de Visitantes, mas sem os guias turísticos dos tours pagos (e o marido ia nos explicando os acontecimentos históricos em cada local). A ideia era fazer o que fosse possível, levando em consideração que estávamos com as crianças e não acreditávamos que eles fossem conseguir andar tudo. Mas eles nos surpreenderam e conseguiram! Fizemos a Freedom Trail todinha, e ainda subimos os 294 degraus do Bunker Hill Monument. Levamos a manhã inteira em todo percurso, mas não chegamos a conhecer o interior de todos os marcos históricos, onde funcionam alguns museus, porque acabaria ficando muito maçante para os meninos.
Vamos falar dos 16 pontos da Freedom Trail de forma resumida, tendo como referência o mapa institucional comprado no Centro de Visitantes e a nossa experiência pessoal.
1 – Boston Common
O melhor ponto de partida é realmente o parque público Boston Common, onde fica o Visitor Information. Ele é considerado o parque mais antigo dos EUA, e onde, no passado, já ocorreram duelos, enforcamentos, celebrações públicas e religiosas. Atualmente, é palco de festivais e concertos, oferece áreas de lazer no verão e abriga a pista de patinação no inverno. É uma área ótima para quem está com crianças, com bastante espaço para correrem livremente.
O Visitor Information Center funciona de segunda a sábado, das 8:30 às 17h; e domingo, das 9h às 17h.
2 – Massachusetts State House
Bem ao lado da Boston Common avistamos o grandioso domo dourado da Massachusetts State House, de 1788, considerado o prédio mais antigo do bairro Beacon Hill e atual sede do governo do estado. O domo original era de madeira, sendo posteriormente coberto por cobre e, por fim, em 1874, por folhas de ouro 23-quilates. Existem tours gratuitos pelo interior da State House, que ocorrem de segunda a sexta, das 10h às 15:30. Não fizemos.
3 – Park Street Church
Impossível não ver a torre de 66 metros de altura da Park Street Church (de 1809). Durante a Guerra de 1812, foi estocada pólvora em sua cripta. Estão disponíveis tours guiados pelo interior da igreja, mas apenas da metade de junho até fim de agosto (terça a sábado, das 8:30 às 15:30), de forma que não havia tour quando visitamos.
4 – Granary Burying Ground
É estranho visitar um cemitério durante um passeio turístico, mas não dá para deixar de passar no local onde estão os túmulos de importantes nomes da história como John Hancock, Samuel Adams, Paul Revere.
A entrada é gratuita, mas havia uma pessoa na entrada entregando umas pastas. Nós pegamos sem saber direito do que se tratava e depois vimos ser um mapa com a localização dos túmulos. Em troca, deixávamos uma gorjeta na pasta. Não negamos que ajudou, mas é opcional pegar a pasta, já que não é nada oficial e sim alguém tentando ganhar um dinheirinho. Porém, se pegar a pasta, é bom não deixar de dar a gorjeta, como vimos pessoas fazendo.
O Granary Burying Ground fica aberto diariamente das 9h às 17h.
5 – King’s Chapel
A primeira igreja anglicana foi construída em 1688 sobre as ordens do rei James II. É possível visitar o interior da igreja e, para isso, solicitam o pagamento de um valor sugerido de 2U$. Vela a pena, pois a sua estrutura interna é bem diferente.
Antes de serem enforcados na Boston Common, os escravos, que ocupavam o lado esquerdo dos fundos da igreja, e os prisioneiros condenados, que sentavam ao lado direito, ouviam longos sermões na King’s Chapel.
Ao lado da igreja, está o primeiro cemitério de Boston, onde se encontra o túmulo do primeiro governador do Estado de Massachusetts.
A King’s Chapel está aberta para visitação de segunda a sábado, das 10h às 16h (verão); e das 10h às 15h (demais estações). O cemitério abre diariamente das 9h às 17h.
6 – Old City Hall
É na calçada em frente ao Old City Hall que encontramos um mosaico chamado City Carpet, que marca o local da Boston Latin School, a primeira escola pública dos EUA (de 1635). Benjamin Franklin, John Hancock, Samuel Adams foram algumas das personalidades que fizeram parte do corpo discente da escola. A Boston Latin School existe até hoje, mas em outro local, e os testes de admissão ainda são muito concorridos.
Em frente ao suntuoso prédio de granito da Old City Hall, encontra-se uma estátua de Benjamin Franklin, de 1856.
7 – Old Corner Bookstore
Onde agora funciona um restaurante mexicano, Chipotle, esta casa de esquina já foi um importante centro literário, onde funcionou a editora Ticknor and Fields, a qual publicou obras clássicas de escritores como Hawthorne. Não tem muito o que ver atualmente, parece só mais uma construção das ruas de Boston, cidade que mistura o passado e o presente a cada passo.
8 – Old South Meeting House
Segunda mais antiga igreja de Boston (1729), a Old South Meeting House foi local de várias reuniões envolvendo eventos cruciais que acabaram levando à Revolução Americana. Uma dessas reuniões ocorreu em 16 de dezembro de 1773, quando mais de 5000 pessoas protestaram contra a taxação do chá. Não chegamos a conhecer por dentro, mas está aberta à visitação (cobra-se taxa) diariamente das 9:30 às 17h (de abril a outubro); e das 10h às 16h (entre novembro e março).
9 – Old State House Museum
No prédio público mais antigo de Boston funciona atualmente um museu, mas ali já foi o centro da vida política e comercial de Boston quando abrigava o precursor da Bolsa de Valores e a Assembleia do estado de Massachusetts. O local também foi palco de eventos como o Massacre de Boston, em 1770, e a leitura da Declaração de Independência, em 1776.
A entrada do museu custa 10U$, e menores de 18 anos não pagam. O Museu funciona diariamente, das 9h às 17h.
10 – Boston Massacre
No piso bem em frente ao Old State House há um anel de pedras em homenagem ao Massacre de Boston, ocorrido em 1770, quando cinco homens foram mortos em conflito com tropas britânicas. Entre eles estava Crispus Attucks, o primeiro negro americano a morrer por causa patriótica. O local está sempre cheio e é até difícil conseguir tirar uma foto do anel completo sem ter um pé no meio.
11 – Faneuil Hall
O Faneuil Hall servia como ponto de encontro para discussões e foi exatamente onde o povo de Boston começou sua oposição aos britânicos. Foi apelidado de Cradle of Liberty (Berço da Liberdade), sendo palco de reuniões contra a Lei do Açúcar e do Selo. Depois da Independência, ainda serviu para debates contra a escravidão e pelos direitos das mulheres.
É possível visitar o Faneuil Hall, gratuitamente, todos os dias das 9h às 17h.
As portas centrais levam à escada para o andar superior, enquanto as portas laterais são para o andar inferior, onde há lojinhas de artesanato, um centro de informações turísticas e banheiros públicos.
O prédio em frente ao Faneuil Hall é o Quincy Market, o mercado público de Boston. É enorme e tem uma variedade monstruosa de opções de alimentação, podendo ser um ótimo ponto de parada para uma refeição. Pena que possui poucos lugares para sentar.
Nesta área há também alguns restaurantes. Para quem está com crianças, uma dica é aproveitar um pouco para deixá-los fazer um lanche, usar o banheiro e sentar para dar uma descansada, mesmo que não almocem por aqui, como foi o nosso caso, porque depois do Faneuil Hall o próximo marco da Freedom Trail é apenas no bairro North End (e dá uma boa pernada até lá).
O lado bom é que o bairro de imigrantes e descendentes italianos, o North End, é uma delícia de caminhar, e repleto de restaurantes de cozinha italiana que contaminam o ar com um cheirinho maravilhoso. Se tiver tempo, dá para abandonar um pouco a Freedom Trail e passear melhor pelo bairro, ou voltar outro dia com mais calma (e mais descansado).
12 – Paul Revere House
A casa de Paul Revere é a construção privada mais antiga de Boston (datada de 1680). Foi desta casa de madeira que Paul Revere se preparou para a cavalgada da meia noite.
É possível conhecer o interior da casa, mas não entramos. O custo é de 3.5$ por adulto e 1U$ por crianças de 5 a 17 anos. Funciona diariamente das 9:30 às 16:15h (até 17:15 de abril a outubro).
13 – Old North Church
A igreja mais antiga de Boston tem uma grande importância na Revolução Americana, uma vez que foi no alto de seu campanário que, na noite de 18 de abril de 1775, Robert Newman pendurou as duas lanternas que serviriam de sinal para Paul Revere iniciar sua cavalgada que alertaria os patriotas sobre a chegada dos exércitos britânicos.
A igreja ainda abriga os primeiros sinos trazidos para a colônia, e o relógio e lustres de bronze originais do século 18.
14 – Copp’s Hill Burying Ground
Os britânicos aproveitaram a localização estratégica do cemitério Copp’s Hill Burying Ground para colocar seus canhões direcionados para Charlestown durante a batalha de Bunker Hill.
A esta altura, meus meninos já estavam super cansados e só entramos rapidamente.
O cemitério fica aberto diariamente das 9h às 17h.
Outra longa caminhada ocorre nesta parte da Freedom Trail, já que precisamos atravessar uma ponte até a cidade de Charlestown, do outro lado do Charles River. Chegamos a pensar em desistir, mas acabamos seguindo com o objetivo de conhecer ao menos o Bunker Hill Monument.
15 – USS Constitution Old Ironsides
O USS Constitution, também conhecido como Old Ironsides (paredes de ferro) graças a suas paredes impenetráveis resistentes às balas dos canhões, estava passando por restauração quando visitamos. Há um museu no local. Essa fragata americana é o navio de guerra mais antigo ainda em serviço.
O tour guiado de visitação ao USS Constitution é gratuito e ocorre de terça à sexta, das 14:30 às 16h; e sábado e domingo, das 10h às 16h. É necessário apresentar um documento com foto. Já a entrada do museu tem um preço sugerido de doação (5 a 10U$ por adulto e 3 a 5U$ por criança). O museu funciona diariamente, das 10 às 17 (de novembro a março) e de 9h às 18h (de abril a outubro).
16 – Bunker Hill Monument
No local onde ocorreu a batalha mais sangrenta da Revolução Americana, a batalha de Bunker Hill, encontramos um obelisco de granito com 67 metros de altura.
Para subir ao topo do monumento e ter uma vista em 360º não precisa de muito mais além de pique e força nas pernas. São 294 degraus. Não, nada de elevadores. E cansa! Mas vale a pena. Os meninos, que estavam reclamando de cansaço pouco antes, subiram na maior animação e chegaram lá no topo muito antes de mim.
Tem uns banquinhos no observatório e dá para sentar e recuperar o fôlego antes de enfrentar os 294 degraus de volta. Depois de curtir a vista, é claro. Mas não dá para demorar muito porque o local é bem apertado e precisa liberar o espaço para os outros que vêm chegando esbaforidos.
O acesso é gratuito. Funciona todos os dias das 9h às 16:30h
Terminamos a Freedom Trail realmente exaustos, mas compensa cada dor nos pés com todo o conhecimento adquirido. Se for entrar em todos os marcos e museus, é fácil passar um dia inteiro percorrendo a Freedom Trail. E, sim, as crianças também podem curtir e aprender bastante. Descobri que não devemos menosprezar o conhecimento dos nossos pequenos quando fui surpreendida com meus filhos me contando a história da cavalgada de Paul Revere. Do nada, quando estávamos na Old North Church e o pai explicava o sinal das lanternas no campanário da igreja, os meninos começaram a contar os fatos todos. Quando perguntamos como eles sabiam daquilo, disseram que haviam assistido em um desenho animado da televisão. Que tal? E na Freedom Trail eles tiveram oportunidade de solidificar os conhecimentos já adquiridos e aprender coisas novas que tornarão muito mais fácil o processo de aprendizagem futuro em sala de aula. 😉
(Facebook Twitter Instagram)______________________________________________
Posts relacionados:
– Boston Children’s Museum – diversão garantida para a criançada em Boston
– CityPASS Boston – quatro opções dentro cinco das principais atrações de Boston
– Ottawa – Bate e volta de Montreal